sexta-feira, 9 de outubro de 2009


As Vitrines




Chico Buarque
Composição: Chico Buarque

Eu te vejo sair por aí
Te avisei que a cidade era um vão
- Dá tua mão
- Olha pra mim
- Não faz assim
- Não vai lá não


Os letreiros a te colorir
Embaraçam a minha visão
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir

Já te vejo brincando, gostando de ser
Tua sombra a se multiplicar
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar


Na galeria, cada clarão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão




Tatuagem

Chico Buarque
Composição: Chico Buarque - Ruy Guerra

Quero ficar no teu corpo
Feito tatuagem
Que é prá te dar coragem
Prá seguir viagem
Quando a noite vem...


E também prá me perpetuar
Em tua escrava
Que você pega, esfrega
Nega, mas não lava...


Quero brincar no teu corpo
Feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem...



E nos músculos exaustos
Do teu braço
Repousar frouxa, murcha
Farta, morta de cansaço...


Quero pesar feito cruz
Nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem...


Quero ser a cicatriz
Risonha e corrosiva
Marcada a frio
Ferro e fogo
Em carne viva...


Corações de mãe, arpões
Sereias e serpentes
Que te rabiscam
O corpo todo
Mas não sentes...





Sonho Impossível

Chico Buarque
Composição: Joe Darion, Mitch Leigh
(versão em português de Chico Buarque)


Sonhar
Mais um sonho impossível

Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer

O inimigo invencível
Negar
Quando a regra é vender
Sofrer
A tortura implacável
Romper

A incabível prisão
Voar

Num limite improvável
Tocar
O inacessível chão

É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz


E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão

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